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1976 Viagem na Sagres
Canárias (Tenerife) - Bermudas - EUA (Newport - Nova Iorque - Boston - Providence - Fall River - New Bedford) - Horta - Porto Santo - Funchal
Na Escola Naval todos os anos temos uma viagem de instrução, sendo a primeira a mais importante, porque é uma viagem longa no Navio-Escola Sagres.
No meu caso a viagem durou 3 meses e 20 dias.
Acabámos o ano lectivo mais cedo para podermos embarcar e para que o navio pudemos participar em iniciativas já previstas e calendarizadas.
Largámos da Basa Naval do Alfeite a 10 de Maio para uma semana de viagem até Santa Cruz de Tenerife, nas ilhas Canárias. Ainda não integrados nas tarefas da guarnição, foram os primeiros dias de adaptação à rotinas de bordo, com Educação Física todos os dias às 7 horas da manhã seguida de uma longa sessão de subida aos mastros. Subir os mastros tem a sua técnica e é preciso aprendê-la antes de se começar a desempenhar tarefas com o resto da guarnição.
10 de Maio de 1976: Base Naval do Alfeite - uma tia e 2 primos a despedirem-se de mim antes da partida
Chegados a Santa Cruz de Tenerife abriu-se-nos um novo mundo de par em par. Estavam lá todos os grandes veleiros da altura, prontos para a seguir participarem numa regata até à Bermudas. Era a Operation Sail 76, alguns já tinham vindo de Plymouth em regata até Tenerife, poucos, a grande maioria faria como nós: duas regatas Tenerife-Bermudas e Bermudas-Newport, seguida da participação nas cerimónias comemorativas dos 200 anos da independência dos Estados Unidos da América, no dia 4 de Julho em Nova Iorque.
Éramos uns privilegiados porque tínhamos acesso ao Real Club Náutico de Tenerife e podíamos visitar os outros navios mesmo fora do horário de abertura a visitas. Dada a situação política da altura, em que muito recentemente tínhamos estabelecido relações diplomáticas com a União Soviética, tínhamos acesso privilegiado a um dos 2 navios soviéticos integrados, o Tovaritch, que por acaso até é uma barca irmã gémea da Sagres. Foi maravilhoso passar uma noite a bordo ao som de músicas e danças típicas russas.
Tenerife: Pico Teide e Real Club Náutico
No Real Club Náutico tínhamos acesso às instalações. De tarde íamos para a piscina, à noite convivíamos com alguns dos lobos do mar mundialmente mais conhecidos, como o Eric Tabarly. Em 1976 a segurança não era nada do que é hoje. Uma certa noite, no club náutico de Tenerife, olhei para o lado e para meu espanto dei com sua majestade o rei D. Juan Carlos I mesmo ao meu lado.
Durante a estada em Tenerife fizemos uma viagem de 24 horas até Los Cristianos, na mesma ilha de Tenerife. Foi um intercâmbio. Alguns camaradas meus fizeram esse ida e volta a Los Cristianos noutros navios, enquanto nós recebemos cadetes de outros navios na Sagres.
A 2ª etapa da viagem foi uma regata entre Santa Cruz de Tenerife e as ilhas Bermudas. Mar calmíssimo, tão calmo que o céu se reflectia na água como se fosse um lado, sem vento não conseguíamos navegar e, na zona do Mar dos Sargaços, com a corrente andávamos para trás. Foram 23 dias para chegar ao destino. E à nossa espera estava um arquipélago de cerca de 700 pequenas ilhas lindíssimas, tropicais, um sonho de estância de férias para americanos muito ricos. Uma maravilha de beleza natural para um jovem de 18 anos acabados de fazer, que se abria para descobrir um mundo novo.
23 dias de regata entre Tenerife e as Bermudas
Bermudas
acidente Elcano Libertad
acidente Elcano Libertad
acidente Elcano Libertad foto minha
acidente Elcano Libertad
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acidente na partida da 2ª regata, Bermudas - Newport
A 3ª etapa foi nova regata, desta vez entre as Bermudas e Newport, no Massachusetts. Na partida da regata um acidente. O comandante do navio escola argentino tentou surpreender toda a gente, veio de trás embalado a toda a velocidade tentando passar a linhas de partida em cima da hora e ganhar vantagem. A coisa correu mal porque o navio espanhol, o Juan Sebastian Elcano surgiu-lhe à frente e não houve como evitar a colisão.
a bordo antes de chegar a Newport
4 dias depois estávamos nos EUA. Chegámos na véspera do previsto porque uma ventania muito forte fez-nos navegar muito mais depressa e foi assim que chegámos aos EUA mais cedo.
Newport estava transformada na base de todos os veleiros e de todos os navegadores e gente ligada ao mar. Toda a “esquadra” de veleiros estava presente, aberta a visitas, o ambiente era frenético, milhares de pessoas atraídas pelos veleiros. Até a imprensa internacional. A National Geographic fez número dedicado à OP SAIL’76 e o acidente à partida das Bermudas teve imagens em destaque.
esmeralda
Krusenster
Elcanop
esmeralda
1/5
alguns navios da OP SAIL'76
De Newport fomos até Nova Iorque, numa viagem de 3 dias ao longo da costa do Connecticut, para a 4 de Julho, dia da Independência, participarmos no desfile naval no Rio Hudson. Foi o ponto alto das comemorações, o Presidente Gerald Ford presidiu a bordo do porta-aviões USS Forrestal. Um espetáculo dentro de outro espetáculo.
E depois foi uma semana para conhecer a Big Apple. Restam poucas fotos porque na época não se tiravam fotos como hoje.
4 de Julho de 1976 - parada naval no Rio Hudson
Depois de 1 semana em Nova Iorque seguiu-se Boston e depois Providence (estado de Rodhe Island), Fall River e New Bedford, tudo no Massachusetts, terras de imigrantes portugueses, depois de trabalho diplomático a Sagres visitava agora as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Uma missão importantíssima que a nossa Marinha desempenha com enorme brio. Adorei conhecer Nova Iorque e Boston.
Boston
NewBedford
Sagres
Boston
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EUA
E depois foi o regresso, a travessia do Atlântico para cá, primeiro com escala nos Açores, no Faial, ainda numa altura de pouco turismo, os Açores eram uma região remota mas lindíssima do nosso Portugal.
E depois a Madeira. Primeiro uns dias no Porto Santo, de longe a melhor praia portuguesa, e a seguir quase uma semana no Funchal.
O regresso a Lisboa foi especial, a entrada da barra norte, de Cascais até Lisboa, durante a tarde, com o sol a iluminar o casario, é um espetáculo especial e diferente. Dá para perceber que o nosso Portugal é ainda amais bonito do que imaginamos. Chegámos a Lisboa nos últimos dias de Agosto, dia 30 se não me engano. 4 meses sem ver a família tinham causado muita saudade. E quase todos tínhamos a família à nossa espera, à chegada à doca da Marinha no Terreiro do Paço.
4 meses de viagem. Fomos caloiros, viemos vividos.
travessia do Atlântico de regresso a Portugal
Faial
Café Sport
Porto da Horta
Faial
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Açores, Faial, cidade da Horta e volta à ilha
Porto Santo
Funchal e volta à ilha
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