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Canárias (Las Palmas), Venezuela (Puerto Cabello, La Guaira e Caracas), Brasil (Fortaleza) e Funchal
Esta viagem foi feita na Fragata NRP Comandante Sacadura Cabral. Não era costume a viagem do 2º ano ser feita numa fragata, normalmente era numa corveta, mas tivemos sorte.
Zarpámos de Lisboa rumo a sul, às Canárias, desta vez rumo a Las Palmas, na Gran Canária. No ano anterior tínhamos estado ali ao lado, em Tenerife, mas notámos diferença na paisagem, muito mais vulcânicas na Gran Canária.
Na época Las Palmas era uma zona franca e local onde todos tentavam comprar equipamentos fotográficos ou de música mais baratos. Comprei uma teleobjectiva 200mm para a minha Yashika TL Electo X comprada no ano anterior em Tenerife.
Seguiu-se a travessia do Atlântico rumo à Venezuela, onde iríamos passar o 10 de Junho com a comunidade portuguesa ali emigrada.
O primeiro porto foi Puerto Cabello, base da marinha venezuelana. Lembro-me de sair logo após a chegada e ouvir logo a música sul-americana, bem alta, que vinha de uma barraca que vendia frutas e sumos.
Foi uma delícia descobrir a cerveja a metro e os sumos e batidos de manga, goiaba e fruta-pinha, que desconhecíamos por completo em Portugal continental. Só quem tinha passado pelas antigas colónias é que sabia o que isso era.
Puerto Cabello foi uma desilusão total. Fomos aconselhados a sair em grandes grupos por causa da insegurança. Estávamos numa cidade onde a população detesta os militares da marinha venezuelana, onde é muito fácil um ser morto ou raptado, ou onde se corta um braço para roubar um relógio.
Saímos todos juntos (os que não estavam de serviço) e com um jipe da polícia naval venezuelana sempre ao lado a fazer-nos segurança. O ambiente era frio, pesado e de insegurança, pelo que o comandante do navio decidiu antecipar a ida para La Guaira, o porto que serve Caracas, ao fim de apena suma tarde em Puerto Cabello.
La Guaira era diferente, era muito mais seguro, mas mesmo assim saíamos em grupos grandes. Tem pouco interesse do ponto de vista turístico, mas permitia-nos chegar rapidamente a Caracas, a capital, que já tinha muito mais para ver.
À época a Venezuela era a única democracia da América Latina sob a presidência de Carlos Andrés Perez e ficámos a compreende porquê após um almoço na Escola Naval local. É que os militares eram pagos a peso de ouro para não terem tentações de se meteram na política e tinham privilégios que nos deixaram admirados. Podiam e deviam andar sempre armados (havia um receio permanente de uma acção dos Tupamaros contra os militares) e não eram obrigados a para nos sinais vermelhos.
Um episódio ilustra isto. Um belo dia fomos a uma cerimónia no centro da cidade para colocarmos uma coroa de flores no monumento a Simon Bolivar, o grande herói nacional da independência. Terminada a cerimónia precisei atravessar uma avenida larguíssima para ir comprar cigarros num quiosque que havia do outro lado. E vendo-me na necessidade de atravessar uma avenida muito larga, cheia de trânsito em muitas faixas de rodagem, um polícia que por ali estava, vendo-me fardado, avançou para o meio da avenida para mandar parar o trânsito para eu poder atravessar. E repetiu quando atravessei de novo depois de ter comprado os cigarros.
O ponto alto da nossa visita a Caracas foi a recepção que que fizemos a bordo à comunidade portuguesa no dia 10 de Junho.
Gostei da Venezuela apesar de duas peripécias desagradáveis. O despenseiro tentou meter a bordo algumas toneladas de café para contrabandear em Portugal. Acordámos uma manhã com um cheio fortíssimo a café e com o navio com mais umas toneladas de deslocamento. O comandante percebeu, mandou selar todos os porões, chamou as autoridades e durante um dia ficámos todos retidos a bordo até que a coisa se resolvesse.
Pior foi um oficial do serviço especial que fazia a viagem connosco ter tido um derrame cerebral repentino e ter falecido umas horas depois no hospital. Foi preciso tratar do repatriamento com a embaixada e fazer um funeral, onde nos revezámos na guarda de honra que fizemos ao corpo.
O ambiente ficou triste e pesado e, por isso, em sinal de luto, a viagem até Fortaleza, que implicava atravessar a linha do equador, viu a festa que normalmente se faz em honra do rei Neptuno ser cancelada.
Chegámos a Fortaleza poucos dias depois e importa desde já dizer que não era a cidade turística em que se tornou. Capital do Estado do ceará, Fortaleza era uma cidade pobre onde era impressionante o facto de não se verem homens na rua. Só mulheres e crianças, porque a falta de empregos levava os homens a procurar trabalhos noutros locais do Brasil.
Em todo o caso foi uma visita interessante pelo ambiente, pela alegria do povo brasileiro, pelas praias e pelo clima equatorial. Valeu a pena ter estado no Brasil.
O regresso foi feito em conjunto com a fragata Roberto Ivens, uma irmã gémea da Sacadura Cabral que vinha com outro curso de aspirantes do Rio de Janeiro, em manobras e exercícios que nos ocuparam durante os 12 dias de viagem.
E depois foi o Funchal, onde já tínhamos estado no ano anterior. É sempre bom dar mais uma volta à ilha, beber uma Coral nas esplanadas da cidade, comer uma espetada no Flecha e ir para a piscina do Hotel Savoy, que tinha um acordo com a Marinha e nos facultava livre acesso à piscina do hotel, situada mesmo junto ao porto da cidade.



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